terça-feira, 29 de setembro de 2015

Frase: " contraiu os músculos, agarrou-se ao travesseiro, enfiou nele a cabeça, mordeu os lábios sufocando o grito mais profundo. Isso não pode estar acontecendo comigo! "


  • Narrador em primeira pessoa
  • Espaço: cama
  • Tempo: uma madrugada .

Toda vez que me deito e adormeço, a mesma frase ricocheteia em minha cabeça: "duas semanas. Duas semanas foi o tempo que eu levei para me apaixonar por ele. Como pude ser tão ingênua? Como não percebi? Era bom demais pra ser verdade!"
Esta noite não foi diferente, mal havia encostado a cabeça no travesseiro quando elas apareceram e, assim como nas noites passadas, as ignorei.
Olho para o relógio pendurado em cima da porta, ele marca: 2:30 h. Droga!Tento dormir de novo e tenho um "sonho" com o dia em que nos conhecemos, revivendo tudo. O sonho começa, mas, espera?Aquela sou eu? Sim! Sou eu no passado, vendo tudo de um outro ponto de vista. Me vejo no segundo ano do ensino médio, ultima aula do dia, vaga. Maravilha! Desço correndo as escadas e vou em direção a quadra de esportes para me sentar nas arquibancadas e finalmente terminar meu livro do mês. Estava na antepenúltima página quando um dos garotos que jogava vôlei (aparentemente também de aula vaga) se sentou ao meu lado
- Está lendo?
Não, não, estou apenas olhando para o livro e imaginado se conseguiria abrir um portal para Nárnia - pensei em dizer. Mas acabei dizendo em um tom sarcástico:
- É, estou lendo
- Por quê? - ele quis saber.
- Como assim, Por quê?
- Ah, qual é?! você realmente lê, porquê gosta. ou porquê é modinha?
Que tipo de pergunta é essa? ler um livro que todos conhecem não significa nada.
- Obviamente, porque gosto. E você? por que joga vôlei?
Ele ri.
- Ok. Vamos fazer uma aposta: por um mês eu leio um de seus livros e você joga vôlei. O que acha?
Dois meses depois ele era um dos caras que mais lia livros da escola e eu, a mais recente titular do time feminino de vôlei.
É,vendo agora, bem clichê e adolescente esse nosso "começo."


O sonho muda, ou melhor, avança alguns anos. Aperto os olhos para tornar a imagem mais nítida e instantaneamente reconheço o lugar:faculdade, último período. Procuro minha "eu" do passado entre os grupos de pessoas que passam pelo corredor em direção as salas.Me vejo andando em direção à sala de psicologia e ele corre para me alcançar antes de ir pra sua de química (sim, fizemos faculdades juntos).ele me alcança, olha para meus livros e diz:
- Está lendo?- A minha "eu" do sonho/visão ri, enquanto eu simulo um vômito.Uma luz negra invade minha mente e sei que o sonho me levará a outras lembranças.

O céu brilha diante dos meus olhos. Percebo que o sonho/visão avançou quatro anos depois que nos formamos e me levou direto para meu casamento no sítio do meu pai (me casar ao ar livre sempre fora meu sonho, mas a praia era clichê demais) onde estavam reunidos todos os nossos parente e amigos. O casamento perfeito, um cara perfeito, o homem dos meus sonhos. Estávamos preste a trocar as alianças quando...Acordo em um sobressalto. O sonho acabou!

Olho para todos os lados, mas está um breu e não consigo enxergar nada. Tento me levantar, mas não consigo, o que está acontecendo? Recobro melhor a consciência e...Meu Deus, estou amarrada! Ambos os braços estão presos à cabeceira da cama. Me mexo freneticamente e um corpo avança sobre meu quadril. Tento gritar, mas há uma fita em minha boca. Sinto uma pancada na cabeça, depois outra, desta vez nas costelas. O choque da realidade é tão alto que quase não sinto dor. A agressão para, a pressão em minhas mãos e o peso em cima de mim diminui apenas o suficiente para me mexer um pouco, mas reconheço que não tenho chance de me libertar. Outra pancada acerta meu rosto.Contraio os músculos, agarro uma das mãos ao travesseiro, enfio nele a cabeça, mordo os lábios sufocando o grito mais profundo. Isso não pode estar acontecendo comigo! Ele é meu marido!
Sinto uma faca em meu pescoço. Quase ouço o som da pele sendo rasgada. O sangue jorra para todos os lados, o peso que antes estava em cima de mim não existe mais. Ouço sua risada rouca, o desgraçado está indo embora!
O silêncio reina no quarto em quanto minha respiração vai ficando cada vez mais curta e, em alguns segundos, estou morta...